sábado, 21 de abril de 2018

Cantigas de D. Dinis


Cantiga de amor - A mia senhor que eu por mal de ti

“A mia senhor que eu por mal de mi
Vi e por mal daquestes olhos meus
E por que muitas vezes maldezi
Mi e o mund`e muitas vezes Deus,
Des que a nom vi, nom er vi pesar
D`al, ca nunca me d`al pudi nembrar

A que mi faz querer ma mi medês
E quantos amigos soía haver
E de [s] asperar de Deus, que mi pês
Pero mi tod`este mal faz sofrer
Des que a nom vi, nom ar vi pesar
D`al, ca nunca me d`al pudi nembrar

A por que mi quer este coraçom
Sair de seu logar e por que já
Moirè perdi o sem e a razom,
Pero m´este mal fez e mais fará,
Des que a nom ar vi pesar
D`al, ca nunca me d`al pudi nembrar”





Desde que deixou de ver a sua senhora, o trovador nunca mais sentiu pesar, mas apenas porque ela ocupa totalmente os seus pensamentos e ele não consegue lembrar de mais nada. Em cada estrofe vai descrevendo o poder que sua senhora tem sobre ele. Na1ª estrofe, ela é aquela que viu por seu mal e que muitas vezes maldisse, na 2ª estrofe, a que faz querer mal a si mesmo e a todos os seus amigos, e ainda desesperar de Deus, já na 3ª estrofe, a que lhe fez sair p coração do lugar e perder a razão.

Cantiga de amigo - Bem entendi, meu amigo

“Bem entendi, meu amigo,
Que mui gram pesar houvestes
quando falar nom podestes
Vós noutro dia comigo,
Mas certo seed`, amigo,
Que nom fui o vosso pesar
Que s´ao meu podes`iguar

Mui bem soub´eu por verdade
Que érades tam coitado
Que nom havia recado,
Mais, amigo, acá tornade:
Sabede bem por verdade
Que nom fui o vosso pesar
Que s´ao meu podess´iguar

Bem soub`, amigo, por certo
Que o pesar daquel dia
Vosso, que par nom havia,
Mais pero foi encoberto,
E por en seede certo
Que nom fui o vosso pesar
Que s´ao meu podess`iguar

Ca o meu nom se pod´osmar,
Nem eu non`o pudi negar”

Dirigindo-se a seu amigo, com quem não tinha podido encontrar no dia anterior, a donzela garante-lhe que a tristeza que ele sentiu não se pode comparar com a dela. Pedindo-lhe para voltar, explica ainda o motivo pelo qual o seu sofrimento foi maior: é que ele conseguiu esconde-lo e ela não. Esta é a primeira cantiga de amigo de D. Dinis transcrita pelos apógrafos italianos.




Cantiga de escárnio e maldizer – Tant`é Meliom pecador

“Tant`é Meliom pecador
E tant`é fazedor de mal
E tant`é um hom´infernal,
Que eu sõo bem sabedor,
Quanto o mais posso seer,
Que nunca poderá veer
A face de Nostro Senhor

Tantos som os pecados seus
E tam muit`é de mal talam,
Que eu sõo certo, de pram,
Quant´aquest`é, amigos meus
Que por quanto mal em el há,
Que jamais nunca veerá
Em nêum temp´a face de Deus

El fez sempre mal e cuidou
E jamais nunca fez o bem
[e] eu sõo certo por en
Del, que sempr`em mal andou,
Que nunca já, pois assi é,
Pode veer, per bõa fé,
A face do que nos comprou”

Diz que seus pecados e o seu mau caráter acabariam impossibilitando de “ver a face de Deus”.




Ouça as cantigas de D. Dinis I de Portugal!

Cantiga - "O que vos nunca cuidei a dizer"

Cantiga - "Amigo, queredes vos ir?"

Cantiga - "Non sei como me salv`a a mia senhor"

No menu ao lado, ouça a mais popular cantiga de D. Dinis "Aí flores, aí flores de verde pino".

Nenhum comentário:

Postar um comentário